LUCASLEIROZ Telegram 6985
O Brasil precisa declarar guerra ao calor. Qualquer romantização das altas temperaturas precisa ser abolida. O verão deve deixar de ser visto como uma estação de turismo e festas e começar a ser visto como uma época de calamidades e emergências.

A esquerda culpa o aquecimento global. A direita nega o problema. Todos apontam origens abstratas e globais. Ninguém apresenta uma solução concreta e de impacto direto.

Enquanto isso, a população sofre com temperaturas beirando os 50 graus no Rio de Janeiro, onde os subúrbios estão cada vez mais repletos de ilhas de calor e zonas de concreto sem uma árvore sequer. Isso para não falar no escândalo anual do abastecimento de água, que é sempre danificado, quando não cortado, por semanas inteiras nos meses mais quentes do ano.

A verdade é que quem está preocupado com "o clima" em abstrato é o mesmo turista que vem "aproveitar o sol" enquanto trabalhadores desmaiam nas calçadas ferventes ou nos transportes públicos insalubres. Enquanto o primeiro adora discursar sobre o problema, o último sofre diretamente as consequências.

Enquanto o Brasil engaja em todas as iniciativas climáticas internacionais e bloqueia empreendimentos de interesse estratégico em nome do mesmo clima, seus próprios cidadãos são abandonados à própria sorte sem qualquer medida para aliviar o impacto direto das altas temperaturas sobre as pessoas comuns.

De que adiante falar de carbono zero se não se investe em planejamento urbano para dirimir as altas temperaturas? De que adianta criar uma paranoia ecológica sobre áreas florestadas no norte enquanto não se projeta reflorestamento urbano nas áreas que abrigam a maior parte da população brasileira? De que adianta especular sobre "mercado de carbono", quando brasileiros ganhando salário mínimo ou no mercado informal são forçados a pagar contas de luz acima de 700 reais por mês se quiserem pelo menos dormir em uma temperatura mais agradável?

Lutar contra o clima é impossível. Todo país é refém de sua geografia. Mas dirimir as consequências das circunstâncias naturais é uma simples questão de vontade objetiva. Por causa do meu trabalho, passo boa parte do ano na Rússia e é impressionante como, mesmo num inverno de -25 graus, o que mais sinto é... calor, tamanha a eficiência dos sistemas de aquecimento em todos os lugares (apartamentos, prédios, transporte público). Se você não está na rua, sequer lembra que é inverno.

É tão difícil um país rico em recursos como o Brasil se esforçar em pelo menos tornar o clima mais suportável para sua população? É tão absurdo pensar em custear contas de luz nos meses mais quentes, criar parques e bosques urbanos, instalar sistemas de resfriamento em áreas públicas e outras inciativas básicas que tornariam a vida do cidadão comum minimamente suportável?

Está na hora de desromantizar o calor. A imagem do Brasil como a terra do sol e do verão foi construída em outro tempo, quando a urbanização era muito menos avançada e as temperaturas, mesmo quando muito altas, eram consideravelmente inferiores às atuais.

O calor de hoje em dia não é normal, natural e muito menos romântico. O calor de hoje mata. É um calor que resulta da incompetência humana (seja pelo aquecimento global, pelo desmatamento ou simplesmente pela falta de planejamento urbano). É um calor que deve ser combatido, não usado como soft power irresponsável em uma economia turística terceiro-mundista que agrada estrangeiros e mata nativos.

É preciso fazer com que o "Rio 40 graus" volte a ser apenas uma música.



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O Brasil precisa declarar guerra ao calor. Qualquer romantização das altas temperaturas precisa ser abolida. O verão deve deixar de ser visto como uma estação de turismo e festas e começar a ser visto como uma época de calamidades e emergências.

A esquerda culpa o aquecimento global. A direita nega o problema. Todos apontam origens abstratas e globais. Ninguém apresenta uma solução concreta e de impacto direto.

Enquanto isso, a população sofre com temperaturas beirando os 50 graus no Rio de Janeiro, onde os subúrbios estão cada vez mais repletos de ilhas de calor e zonas de concreto sem uma árvore sequer. Isso para não falar no escândalo anual do abastecimento de água, que é sempre danificado, quando não cortado, por semanas inteiras nos meses mais quentes do ano.

A verdade é que quem está preocupado com "o clima" em abstrato é o mesmo turista que vem "aproveitar o sol" enquanto trabalhadores desmaiam nas calçadas ferventes ou nos transportes públicos insalubres. Enquanto o primeiro adora discursar sobre o problema, o último sofre diretamente as consequências.

Enquanto o Brasil engaja em todas as iniciativas climáticas internacionais e bloqueia empreendimentos de interesse estratégico em nome do mesmo clima, seus próprios cidadãos são abandonados à própria sorte sem qualquer medida para aliviar o impacto direto das altas temperaturas sobre as pessoas comuns.

De que adiante falar de carbono zero se não se investe em planejamento urbano para dirimir as altas temperaturas? De que adianta criar uma paranoia ecológica sobre áreas florestadas no norte enquanto não se projeta reflorestamento urbano nas áreas que abrigam a maior parte da população brasileira? De que adianta especular sobre "mercado de carbono", quando brasileiros ganhando salário mínimo ou no mercado informal são forçados a pagar contas de luz acima de 700 reais por mês se quiserem pelo menos dormir em uma temperatura mais agradável?

Lutar contra o clima é impossível. Todo país é refém de sua geografia. Mas dirimir as consequências das circunstâncias naturais é uma simples questão de vontade objetiva. Por causa do meu trabalho, passo boa parte do ano na Rússia e é impressionante como, mesmo num inverno de -25 graus, o que mais sinto é... calor, tamanha a eficiência dos sistemas de aquecimento em todos os lugares (apartamentos, prédios, transporte público). Se você não está na rua, sequer lembra que é inverno.

É tão difícil um país rico em recursos como o Brasil se esforçar em pelo menos tornar o clima mais suportável para sua população? É tão absurdo pensar em custear contas de luz nos meses mais quentes, criar parques e bosques urbanos, instalar sistemas de resfriamento em áreas públicas e outras inciativas básicas que tornariam a vida do cidadão comum minimamente suportável?

Está na hora de desromantizar o calor. A imagem do Brasil como a terra do sol e do verão foi construída em outro tempo, quando a urbanização era muito menos avançada e as temperaturas, mesmo quando muito altas, eram consideravelmente inferiores às atuais.

O calor de hoje em dia não é normal, natural e muito menos romântico. O calor de hoje mata. É um calor que resulta da incompetência humana (seja pelo aquecimento global, pelo desmatamento ou simplesmente pela falta de planejamento urbano). É um calor que deve ser combatido, não usado como soft power irresponsável em uma economia turística terceiro-mundista que agrada estrangeiros e mata nativos.

É preciso fazer com que o "Rio 40 graus" volte a ser apenas uma música.

BY Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)


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